A pandemia causada pelo novo coronavírus serviu para escancarar a desigualdade no país. E os problemas gerados por essa desigualdade são os desafios que a educação está enfrentando neste momento. A falta de acesso à internet e a dispositivos eletrônicos para visualizar as aulas, a merenda escolar, e a lista vai longe. Com relação à Educação Física, há outro fator, muito relevante, que pode ser somado a esse caldeirão de problemas do qual precisaremos pensar durante e após o término da quarentena: a falta de acesso a materiais esportivos para milhares de crianças do estado e do país.

 

 

Dentre todas as disciplinas da escola, a Educação Física padece de uma forma um pouco mais potente pela impossibilidade de aulas presenciais. Centenas de brincadeiras, jogos e esportes somente têm sentido, significado, por meio da prática com outras pessoas. Como isso não é possível, docentes de todos os cantos começaram a planejar atividades para que estudantes possam praticá-las em casa. E, junto à execução desse planejamento, a constatação de que muitas crianças não possuem nem mesmo uma bola em suas residências. Uma simples bola. A partir desse contexto, podemos pensar em três desafios muito importantes.

 

A escola ainda será, por muito tempo, um espaço necessário para a descoberta, a experimentação e o despertar do gosto pela prática esportiva. Quando a família não possui uma cultura da prática de atividade física ou prática esportiva, é na escola que a criança vai aprender a gostar dela. É uma questão de saúde pública. Diminuir o número de pessoas que estão no grupo de risco (diabéticos, hipertensos, obesos etc.) só é possível se a prática de atividade física for levada a sério. A escola terá uma importância muito grande para tentar despertar esse gosto desde a mais tenra idade.

 

Precisamos pensar também em políticas públicas que facilitem o acesso de crianças a materiais esportivos. Bolas, cordas e bambolês também poderiam ser considerados como materiais da escola, assim como, hoje, computadores, celulares, tablets e a internet foram acrescentados à lista de materiais básicos para a educação. Juntamente à sua biblioteca de livros em casa, as crianças poderiam ter suas bibliotecas esportivas. Durante a COVID-19, centenas de professores de Educação Física, mais o planejamento de suas atividades, estão tendo que buscar fontes de como confeccionar implementos esportivos com materiais alternativos. Mas não é a mesma coisa. Seria como ter que aprender a confeccionar um lápis utilizando madeira e carvão vegetal, para depois poder fazer uma atividade de matemática.

 

E, por último, a pandemia vai acabar um dia; e o que faremos com esse retorno? De que jeito estamos preparando estudantes, docentes e o ambiente escolar para a volta das atividades presenciais? A Educação Física tem um papel fundamental no mundo pós-pandemia, a fim de reverter os efeitos da inatividade física causados pela quarentena; para promover a saúde e a qualidade de vida com a prática esportiva. Essa retomada positiva poderá ter mais força se a desigualdade ao acesso de materiais esportivos em casa também for diminuída. Dessa forma, a criança poderá continuar em casa o que aprende nas aulas de Educação Física na escola, pois terá os recursos necessários para isso. Na escola, ela aprenderá quem foi Michael Jordan, Edson Arantes do Nascimento, Giba, entre outros. E, em casa, ela poderá brincar de ser os principais ídolos do esporte.

 

De todos os problemas citados anteriormente, fica a provocação para as famílias incentivarem seus filhos para uma infância ativa, adquirindo, quando for possível, brinquedos ativos. E, para os governos e as instituições de ensino, fica a provocação de como podemos contribuir para que o lar seja a extensão da escola, e também para a Educação Física. Que o contato de uma criança com uma bola, uma corda, um bambolê não seja apenas na escola. A escola vai ensinar o que as crianças podem fazer com esses objetos. Contudo, é em casa que os mesmos objetos, além de serem incorporados na vida das crianças, passarão a ter mais sentido.

 

 

 

Professor Me. Marcos Antônio Fari Júnior

Coordenador pedagógico da Guarani Sport e autor dos livros infantis da Turma do Júnior, coleção que democratiza o acesso de crianças e adolescentes ao universo esportivo. Professor universitário com especialização em Musculação e Condicionamento Físico, é também mestre em Educação. Possui 10 anos de experiência como educador físico, atuando também com o treinamento de voleibol de rendimento.

 

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