Ao finalizar o mês de novembro, estaremos completando oito meses de pandemia e aulas remotas nas escolas brasileiras. Devido às medidas sanitárias e um grande esforço coletivo, algumas cidades começaram a diminuir o número de casos, e a cogitar um possível retorno às aulas presenciais. Com oito meses de isolamento social, muitos docentes e instituições de ensino conseguiram se reinventar e continuar com as atividades escolares, para não declarar o ano letivo perdido. Ainda não sabemos quais serão os efeitos crônicos desta pandemia, mas já podemos apontar os efeitos agudos, refletindo sobre esta curta experiência com o ensino a distância e com os desafios na reabertura das escolas.

 

Nos municípios em que o número de casos reduziu, as aulas presenciais foram retomadas com uma série de adaptações estruturais, no currículo e na circulação de pessoas pelo espaço escolar. Houve delimitação dos espaços para que todos respeitem uma distância de segurança, instalação de lavatórios, chapas de acrílico, rodízio de estudantes, uso de máscaras e álcool em gel obrigatoriamente etc. E, com relação ao currículo, o ensino híbrido foi a solução mais viável no momento; seguro para os estudantes e um desafio a mais para os docentes.

 

Tal modelo de ensino tende a continuar sempre acompanhando os números de casos, além dos avanços dos laboratórios na criação de uma vacina para que o ensino presencial volte definitivamente. Essa é uma questão crucial que devemos começar a debater, urgentemente. A promessa de uma vacina em tempo recorde, mesmo que ocorra no fim deste ano ou no início de 2021, não significa que as coisas voltarão como eram antes. Até que grande parte da população seja vacinada e a imunidade de rebanho comece a surtir efeito, especialistas preveem que, somente a partir do segundo semestre de 2021, é que as coisas começarão a se normalizar.

 

Isso significa que o modelo híbrido de ensino ainda será a solução mais palpável, o que faz com que tenhamos de pensar em estratégias para a Educação Física escolar. É neste momento que podemos utilizar o aprendizado de oito meses de pandemia, para pensar na Educação Física escolar no contexto presente:

 

1. O acesso a materiais esportivos para todos será um grande entrave para a Educação Física. No ensino presencial, as instituições de ensino precisarão se ajustar para que as atividades sejam mais individualizadas ou para que os estudantes tenham materiais em quantidade suficiente para evitar o manuseio coletivo do mesmo objeto. E a dificuldade do ensino híbrido será a mesma do início da pandemia, pois muitas crianças não têm em casa sequer uma bola para poder se exercitar ou brincar.

 

2. O ensino híbrido duplica o planejamento do professor. No começo da quarentena, o desafio era ajustar as aulas presenciais para o ambiente virtual, ou para que as atividades ocorressem a distância para as crianças que não tinham aulas ao vivo. Agora, o planejamento deverá atender a demanda de quem fica em casa, bem como garantir que os estudantes no ambiente presencial tenham uma aula de qualidade com segurança.

 

3. A Educação Física escolar não pode ficar de fora nesse retorno às aulas. Oito meses em casa reduziram drasticamente a quantidade de atividades físicas que as crianças costumavam realizar por semana. Além do crescimento dessa doença silenciosa que é o sedentarismo, precisamos preparar a geração de hoje para uma próxima pandemia. Assim, reduzir o número de pessoas que está no grupo de risco deve ser um objetivo global.

 

Estes são alguns dos desafios que a escola e a Educação Física escolar enfrentaram nos últimos meses, e que ainda estarão presentes por muito tempo até o fim da pandemia, ou até que os efeitos da vacina comecem a surtir. Desse modo, tudo que for feito pelas lideranças políticas, instituições, famílias, docentes e estudantes, para tentar lidar com as questões apresentadas acima, fará com que o retorno às aulas seja mais positivo e seguro.

 

Enfim, precisamos repensar e oferecer condições dignas de trabalho aos docentes, para que possam realizar as aulas presenciais sem se esquecer das crianças que estarão em casa. Também precisamos pensar em subsídios que fortaleçam o trabalho do professor, que precisará encontrar energia para aguentar, por um longo tempo, um modelo que exigirá muito de sua capacidade de planejar.

 

Eu gostaria muito de trazer uma mensagem otimista aos colegas docentes, porém, o que podemos dizer é que, agora, devemos nos levantar, respirar fundo e voltar para a batalha. Os docentes estão desgastados, mas a pandemia não terminou. Só que, olhando para tudo que foi feito até agora, temos as pistas necessárias para poder enfrentar com mais coragem este momento, até que haja uma solução definitiva para este problema global. A solução passará, com certeza, pelos principais atores envolvidos na educação: docentes e estudantes.

 

 

 

 

Professor Me. Marcos Antônio Fari Júnior

 

 

Coordenador pedagógico da Guarani Sport e autor dos livros infantis da Turma do Júnior, coleção que democratiza o acesso de crianças e adolescentes ao universo esportivo. Professor universitário com especialização em Musculação e Condicionamento Físico, é também mestre em Educação. Possui 10 anos de experiência como educador físico, atuando também com o treinamento de voleibol de rendimento.

 

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